O dinheiro, quando manuseado
por pessoas não adestradas para usá-lo, pode ser a fonte de muitas dores de
cabeça. Por isso, convém evitar para tais personagens a maldição do excesso de
numerário. Veja-se, a propósito, o caso de José Martinho Ferreira de Araújo.
Funcionário do gabinete do
senador Wellington Dias (PT-PI), o pobre viajava por terra de Brasília para o
Piauí. Súbito, foi parado por agentes da Polícia Rodoviária Federal na BR-242,
na altura do município baiano de Barreiras. Por alguma razão, o veículo foi
varejado por uma revista.
Verifica daqui, perscruta
dali, os agentes encontraram, escondido embaixo do banco traseiro, uma
mercadoria inusitada: R$ 180 mil, em notas de R$ 100. José Martinho foi detido
para averiguação. Prendeu-se também o acompanhante do funcionário do senador.
Chama-se Paulo Fernando de Sousa.
Inquirido pelo delegado
Francisco de Sá, da cidade de Barreiras, José Martinho informou que serve ao
gabinete do senador Wellington Dias na função de motorista. Noves fora os
auxílios, recebe em R$ 4.469,89 mensais. Declarou-se dono do dinheiro. Mas não
soube precisar a origem.
Curiosamente, o motorista
José Martinho viajava no banco do carona. Dirigia o carro o acompanhante Paulo
Fernando. Por mal dos pecados, o condutor exibiu aos agentes uma carteira de
habilitação falsa. Adquiriu-a, segundo disse, na cidade goiana de Águas Lindas.
Pagou R$ 1.000.
Apertado, José Martinho
declarou que seu destino era a cidade de São Miguel do Fidalgo, no interior do
Piauí. Ali, disse ele à polícia, usaria os R$ 180 mil para comprar “uma
propriedade rural”, além de “bodes e cabras”. Como não soube dizer de onde veio
a grana, a quantia foi apreendida.
Sem o dinheiro, José
Martinho foi solto depois de prestar depoimento. O veículo, um Pálio registrado
em seu nome, também foi liberado. Paulo Fernando, o dono da falsa carteira de
motorista, ficou preso.
Candidato ao governo do
Piauí, o senador petista Wellington Dias apressou-se em soltar uma nota. No
texto, tomou distância da encrenca. Anotou que “não tem qualquer relação com o
fato.'' Informou que o motorista de seu gabinete, em férias, realizava uma
“viagem pessoal sem qualquer ligação com a atividade do Senado ou do próprio
senador.”
De acordo com a nota do
senador, o assessor teria declarado à polícia que tem condições de “comprovar a
origem do dinheiro, já que a mulher dele é comerciante.'' Bom, muito bom,
ótimo. O motorista José Martinho haverá de explicar também por que diabos
compraria uma propriedade rural, bodes e cabras em dinheiro vivo.
Decerto o assessor não
conversou com o senador. Ilustre membro do PT, partido que controla o poder
federal há quase 12 anos, Wellington Dias teria informado ao motorista que, sob
Dilma Rousseff, o sistema bancário é sólido e não há o mais remoto risco de o
governo decretar um confisco à moda Collor.
Quer dizer: com um mínimo de
adestramento, o assessor do gabinete do senador petista teria procedido como
qualquer brasileiro de bem. Repassaria o dinheiro às pessoas com as quais
pretendia fazer seus supostos negócios por meio de cheques ou de transferências
bancárias regulares.
Em sua nota, Wellington Dias
acrescentou: “Para esclarecer melhor o assunto, os advogados do senador estudam
pedir um 'direito de resposta' aos veículos de comunicação, de forma a não restar
dúvidas sobre o ocorrido.'' Ah, bom. Sendo assim, a coisa logo, logo será
acomodada em pratos asseados. O repórter não vê a hora de receber os
“esclarecimentos''.
Fonte: Blog do Josias
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