Foto: Protestos de rua de junho e julho de 2013 |
Pode ser apenas uma
percepção pessoal, mas sinto que seja qual for o resultado do segundo turno das
eleições de 2014 a sensação de desencanto dos eleitores supera os percentuais
dos candidatos. As pesquisas não mediram o grau de desilusão do público em
relação às promessas e ao desempenho dos dois candidatos presidenciais, mas a
falta de entusiasmo dos eleitores é palpável nas redes sociais.
Houve apenas uma fugaz
demonstração de expectativa quando Marina Silva despontou como alternativa, mas
as contradições de seu programa e dos partidos que a apoiavam minaram a sua
possibilidade de encarnar as esperanças do eleitorado. O resultado é que
tivemos mais do mesmo em matéria de candidaturas e programas.
O desencanto dos eleitores
pode ser percebido com mais clareza nas redes sociais, como o Facebook, onde as
pessoas se expressam com mais liberdade do que nas pesquisas de opinião. E o
que se pode perceber é que o público se dividiu em duas atitudes: a do
bate-boca e a da decepção, com um leve predomínio desta última.
A imprensa passou ao largo
dessa divisão porque não conseguiu criar uma sinergia com o público, acabou se
limitando a uma cobertura burocrática e a servir de instrumento para lobbies e
grupos de pressão organizados, como os sistemas financeiro e bancário. Os
jornais e revistas precisam reavaliar suas estratégias editoriais para evitar
um distanciamento ainda maior em relação ao leitor e a perda de credibilidade
política.
Diante da falta de interação
com a imprensa escrita, a alternativa do público passou a ser a televisão, por
causa dos debates entre candidatos, e as redes sociais, onde a troca de ideias,
palpites e também de desaforos acabou aproximando mais as pessoas, fazendo com
que elas se sintam mais à vontade na hora de tomar uma atitude.
A descaracterização
ideológica dos partidos, as alianças eleitorais oportunistas e a generalização
do marketing político transformaram as eleições num jogo dominado por aqueles
que desejam controlar o poder. A representatividade popular foi perdendo
densidade com o passar dos anos e hoje transformou-se num slogan quase vazio.
Além do distanciamento da
imprensa em relação ao público nos períodos pré-eleitorais, outro fator que
agravou o desencanto dos eleitores é a obsessão dos candidatos pelas promessas
de campanha – um hábito antigo, mas que se mostra cada vez mais ineficiente.
Mesmo os eleitores pouco familiarizados com a política sabem que fazer promessa
é a coisa mais simples do mundo para um candidato.
Cumprir com o prometido já é
um problema bem mais complicado e que não depende apenas do político, pois há
toda uma máquina administrativa e burocrática a ser mobilizada. Por isso sobram
desculpas e explicações para o abandono daquilo que foi prometido nos palanques
e debates eleitorais.
No caso especifico deste
segundo turno, a candidata Dilma Rousseff prometeu continuar o projeto petista,
apesar de que isso depende do apoio de uma eclética base aliada de partidos
interessados apenas em cargos públicos bem remunerados. Dilma não conseguiu
reviver o carisma de Lula e sua campanha não teve o mesmo envolvimento popular
do seu antecessor.
Aécio Neves prometeu
mudança, tentando reviver a mística de Lula em 2002, mas não conseguiu ocultar
o fato de que o antipetismo sempre foi a principal mola propulsora de sua
candidatura. Para o eleitor, mudança significa novos tempos, novas propostas,
novas esperanças, mas a oposição não logrou superar a sensação geral de que,
para ela, mudar se limitava apenas a acabar com a hegemonia do Partido
dos Trabalhadores.
A soma desses fatores se
plasmou num sentimento de desencanto com a política que não chega a ser
expresso em números como, por exemplo, as abstenções e votos nulos ou em
branco, porque é mais um estado de espírito do que uma atitude ou decisão pessoal.
Por ser um estado de espírito, o desencanto político se manifesta na falta de
entusiasmo eleitoral e pode se concretizar de forma imprevista, como aconteceu
nos protestos de rua de junho-julho de 2013.
O desencanto torna as
pessoas menos submissas ao poder do Estado porque elas não se sentem
correspondidas e nem comprometidas e corresponsáveis. Isto provavelmente fará
com que o próximo governo tenha muita dificuldade em criar uma base popular
minimamente sólida. A perspectiva é de muito conflito entre os lobbies
políticos e empresariais que lutam por favores estatais, ao mesmo tempo em que
estão criadas as condições para a rotinização de protestos dos segmentos mais
desiludidos da população – como os sem teto, sem terra, sem transporte e sem
perspectivas
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