"Não podemos mais continuar apostando no ódio, na calúnia e na desconstrução de pessoas e propostas apenas pela disputa de poder que dividem o Brasil", disse Marina na carta de apoio a Aécio Neves
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Foto: Marcos Alves / Agência O
Globo
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Derrotada no primeiro
turno da eleição presidencial, Marina Silva (PSB) leu na manhã de domingo, (12), em São Paulo um
texto no qual confirmou seu apoio a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno.
Leia a íntegra:
“Ontem, em Recife, o
candidato Aécio Neves apresentou o documento “Juntos pela Democracia, pela
Inclusão Social e pelo Desenvolvimento Sustentável”.
Quero, de início, deixar
claro que entendo esse documento como uma carta compromisso com os brasileiros,
com a nação. Rejeito qualquer interpretação de que seja dirigida a mim, em
busca de apoio. Seria um amesquinhamento dos propósitos manifestados por Aécio
imaginar que eles se dirigem a uma pessoa e não aos cidadãos e cidadãs
brasileiros. E seria um equívoco absoluto e uma ofensa imaginar que me tomo por
detentora de poderes que são do povo ou que poderia vir a ser individualmente
destinatária de promessas ou compromissos. Os compromissos explicitados e
assinados por Aécio tem como única destinatária a nação e a ela deve ser dada
satisfação sobre seu cumprimento. E é apenas nessa condição que os avaliei para
orientar minha posição neste segundo turno das eleições presidenciais.
Estamos vivendo nestas
eleições uma experiência intensa dos desafios da política. Para mim eles
começaram há um ano, quando fiz com Eduardo Campos a aliança que nos trouxe até
aqui. Pela primeira vez, a coligação de partidos se dava exclusivamente por
meio de um programa, colocando as soluções para o país acima dos interesses
específicos de cada um.
Em curto espaço de tempo, e
sofrendo os ataques destrutivos de uma política patrimonialista, atrasada e
movida por projetos de poder pelo poder, mantivemos nosso rumo, amadurecemos,
fizemos a nova política na prática.
Os partidos de nossa aliança
tomaram suas decisões e as anunciaram. Hoje estou diante de minha decisão como
cidadã e como parte do debate que está estabelecido na sociedade brasileira. Me
posicionarei.
Prefiro ser criticada
lutando por aquilo que acredito ser o melhor para o Brasil, do que me tornar
prisioneira do labirinto da defesa do meu interesse próprio, onde todos os
caminhos e portas que percorresse e passasse, só me levariam ao abismo de meus
interesses pessoais.
A política para mim não pode
ser apenas, como diz Bauman, a arte de prometer as mesmas coisas.
Parodiando-o, eu digo que
não pode ser a arte de fazer as mesmas coisas.
Ou seja, as velhas alianças
pragmáticas, desqualificadas, sem o suporte de um programa a partir do qual
dialogar com a nação.
Vejo no documento assinado
por Aécio mais um elo no encadeamento de momentos históricos que fizeram bem ao
Brasil e construíram a plataforma sobre a qual nos erguemos nas últimas
décadas.
Ao final da presidência de
Fernando Henrique Cardoso, a sociedade brasileira demonstrou que queria a
alternância de poder, mas não a perda da estabilidade econômica.
E isso foi inequivocamente
acatado pelo então candidato da oposição, Lula, num reconhecimento do mérito de
seu antecessor e de que precisaria dessas conquistas para levar adiante o seu
projeto de governo.
Agora, novamente, temos um
momento em que a alternância de poder fará bem ao Brasil, e o que precisa ser
reafirmado é o caminho dos avanços sociais, mas com gestão competente do Estado
e com estabilidade econômica, agora abalada com a volta da inflação e a
insegurança trazida pelo desmantelamento de importantes instituições públicas.
Aécio retoma o fio da meada
virtuoso e corretamente manifesta-se na forma de um compromisso forte, a
exemplo de Lula em 2002, que assumiu compromissos com a manutenção do Plano
Real, abrindo diálogo com os setores produtivos.
Doze anos depois, temos um
passo adiante, uma segunda carta aos brasileiros, intitulada: “Juntos pela
democracia, a inclusão social e o desenvolvimento sustentável”.
Destaco os compromissos que
me parecem cruciais na carta de Aécio:
- O respeito aos valores
democráticos, a ampliação dos espaços de exercício da democracia e o resgate
das instituições de Estado.
- A valorização da
diversidade sociocultural brasileira e o combate a toda forma de discriminação.
- A reforma política, a
começar pelo fim da reeleição para cargos executivos, que tem sido fonte de
corrupção e mau uso das instituições de Estado.
- Sermos capazes de entender
que, no mundo atual, a ampliação da participação popular no processo
deliberativo, através da utilização das redes sociais, de conselhos e das
audiências públicas sobre temas importantes, não se choca com os princípios da
democracia representativa, que têm que ser preservados.
- Compromissos sociais
avançados com a Educação, a Saúde, a Reforma Agrária.
- Prevenção frente a
vulnerabilidade da juventude, rejeitando a prevalência da ótica da punição.
- Lei para o Bolsa Família,
transformando-o em programa de Estado
- Compromissos
socioambientais de desmatamento zero, políticas corretas de Unidades de
Conservação, trato adequado da questão energética, com diversificação de fontes
e geração distribuída.
- Inédita determinação de
preparar o país para enfrentar as mudanças climáticas e fazer a transição para
uma economia de baixo carbono, assumindo protagonismo global nessa área.
- Manutenção das conquistas
e compromisso de assegurar os direitos indígenas, de comunidades quilombolas e
outras populações tradicionais. Manutenção da prerrogativa do Poder Executivo
na demarcação de Terras indígenas
- Compromissos com as bases
constitucionais da federação, fortalecendo estados e municípios e colocando o
desenvolvimento regional como eixo central da discussão do Pacto Federativo.
Finalmente, destaco e apoio
o apelo à união do Brasil e à busca de consenso para construir uma sociedade
mais justa, democrática, decente e sustentável.
Entendo que os compromissos
assumidos por Aécio são a base sobre a qual o pais pode dialogar de maneira
saudável sobre seu presente e seu futuro.
É preciso, e faço um apelo
enfático nesse sentido, que saiamos do território da política destrutiva para
conseguir ver com clareza os temas estratégicos para o desenvolvimento do país
e com tranqüilidade para debatê-los tendo como horizonte o bem comum.
Não podemos mais continuar
apostando no ódio, na calúnia e na desconstrução de pessoas e propostas apenas
pela disputa de poder que dividem o Brasil.
O preço a pagar por isso é
muito caro: é a estagnação do Brasil, com a retirada da ética das relações
políticas.
É a substituição da
diversidade pelo estigma, é a substituição da identidade nacional pela
identidade partidária raivosa e vingativa.
É ferir de morte a
democracia.
Chegou o momento de
interromper esse caminho suicida e apostar, mais uma vez, na alternância de
poder sob a batuta da sociedade, dos interesses do pais e do bem comum.
É com esse sentimento que,
tendo em vista os compromissos assumidos por Aécio Neves, declaro meu voto e
meu apoio neste segundo turno.
Votarei em Aécio e o
apoiarei, votando nesses compromissos, dando um crédito de confiança à
sinceridade de propósitos do candidato e de seu partido e, principalmente,
entregando à sociedade brasileira a tarefa de exigir que sejam cumpridos.
Faço esta declaração como
cidadã brasileira independente que continuará livre e coerentemente, suas lutas
e batalhas no caminho que escolheu.
Não estou com isso fazendo
nenhum acordo ou aliança para governar.
O que me move é minha
consciência e assumo a responsabilidade pelas minhas escolhas”.
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