Polícias comandadas pelos maiores partidos do país endurecem o tratamento dispensado a manifestantes no Rio, no Distrito Federal e em São Paulo. Sábado terminou com dezenas de feridos e 160 pessoas detidas nas três capitais
Marcello Casal Jr./ABr
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Polícia usa jato d’água para reprimir manifestante na Esplanada dos Ministérios |
Os protestos de 7 de
setembro ficaram longe de alcançar as marcas atingidas pelas manifestações que
sacudiram o país em junho. Serão lembrados mais pelo confronto entre policiais
e manifestantes do que pelas multidões que tomaram conta das principais cidades
brasileiras três meses atrás. Mas mostraram, também, que as polícias comandadas
pelos três principais partidos do país não são tão diferentes entre si na hora
de reprimir.
O Dia da Independência
terminou com denúncias de abuso contra as polícias dos governadores do Rio de
Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e de
São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Na resposta aos protestos, prevaleceu a
forte repressão policial nas duas maiores cidades do país e na capital federal.
Sobrou, até, para quem participava pacificamente dos protestos ou estava ali
trabalhando, como profissionais de imprensa. Apenas nessas três cidades, 160
pessoas foram detidas ao longo de todo o dia. Mais de duas dezenas ficaram
feridas.
Crianças feridas
O maior confronto entre
manifestantes e policiais ocorreu no Rio, onde cerca de 80 pessoas foram presas.
Os problemas começaram pela manhã. O público que assistia ao desfile da
Independência foi atingido por gás lacrimogêneo utilizado por policiais para
dispersar manifestantes que invadiram a parada militar para pedir a saída do
governador. Ao todo, 24 pessoas procuraram atendimento médico. Entre elas,
crianças, idosos e mulheres.
No final da tarde, o clima
esquentou novamente. Integrantes do movimento Black Bloc, de inspiração
anarquista, enfrentaram policiais militares em frente ao Palácio Guanabara,
sede do governo do Rio. Uma das bombas atiradas pelo batalhão de choque da PM
atingiu a Sociedade Viva Cazuza, que cuida de crianças em situação de risco. O
comando da polícia admitiu que houve uma falha na ação policial, que o disparo
foi feito de “maneira equivocada” e que a responsabilidade pelo incidente será
apurada em sindicância interna.
Bombas e cachorros
No Distrito Federal, a manhã
foi de relativa tranquilidade. Policiais usaram spray de pimenta para dispersar
manifestantes que tentavam avançar sobre o espelho d’água na entrada do
Congresso Nacional. Mas não houve confronto. À tarde, porém, o clima foi de
guerra em algumas das principais vias de Brasília.
Manifestantes furaram um
bloqueio policial e tentaram se aproximar do Estádio Nacional Mané Garrincha,
onde as seleções do Brasil e da Austrália se enfrentariam horas depois. Balas
de borracha, bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo foram utilizados contra
manifestantes, em meio aos torcedores que chegavam ao estádio. Antes, os
manifestantes haviam tentado depredar uma concessionária de veículos e o prédio
da TV Globo. Repelidos dos arredores do Mané Garrincha, eles ficaram acuados na
plataforma superior da rodoviária de Brasília até o início da noite.
Houve também denúncia de
abuso policial. Um vídeo gravado pela equipe do jornal O Estado de S. Paulo
mostrou dois jovens sendo agredidos por dois policiais. Um fotógrafo da agência
Reuters se machucou no momento em que tentava fugir dos cães controlados por
homens do batalhão de Choque durante protesto nos arredores do Mané Garrincha.
“Os policiais jogaram os cachorros em cima da imprensa, foi na maldade mesmo.
Gritaram ‘pega, pega’”, afirmou Ueslei Marcelino ao UOL. Outro fotógrafo, da
Folha de S. Paulo, também foi atacado por cachorros da PM, mas não se feriu. Um
repórter da Agência Brasil registrou boletim de ocorrência após ser agredido
por três policiais com spray de pimenta e empurrões. Luciano Nascimento contou
que foi abordado quando conversava com um manifestante, também atingido por uma
bomba de gás lacrimogêneo.
Até o começo da noite de
ontem, 50 pessoas haviam sido detidas pela polícia do Distrito Federal por
desacato, desordem ou dano ao patrimônio. O Governo do Distrito Federal
anunciou a instauração de sindicância para apurar o caso. O comando da PF,
porém, classificou como “perfeita” a ação dos policiais ao longo do dia.
Atropelamentos e cassetete
Assim como em Brasília, em
São Paulo os protestos começaram pacíficos e terminaram com cenas de violência
e troca de acusações entre policiais e manifestantes. Cerca de 30 pessoas foram
detidas. Pelo menos cinco pessoas ficaram feridas. Os incidentes mais graves
ocorreram no final da tarde, no Centro, quando a tropa de choque foi acionada
para conter ataques à Câmara de Vereadores. Duas agências bancárias também
foram depredadas por um grupo.
Houve uso de bombas de gás
lacrimogêneo e balas de borracha para repressão. Na dispersão dos
manifestantes, três foram atropelados – um deles por veículo da própria PM. Um
rapaz foi ferido na Avenida Paulista e encaminhado a um pronto-socorro. Segundo
a Polícia Militar, ele foi atingido por uma garrafa arremessada por
manifestantes. Pessoas que estavam próximas afirmam que ele foi ferido por
golpes de cassetete de um PM.
Policiais paulistas também
foram acusados por manifestantes de terem feito disparos de revólver para
dispersar a multidão. O comando da polícia paulista alega que apenas reagiu à
ação de manifestantes que apelaram para o uso da violência e da ameaça. Duas
pessoas foram flagradas dando golpes com pedaço de madeira em uma moto da PM
caída ao chão.
Fonte: Congresso em foco.
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