Cultura
Por Luciana Araújo em 08/06/2013 às 13:04Lume da Fogueira durante apresentação em 2012 |
Fogueiras, comidas típicas,
arraiás, colorido e muita alegria fazem de junho um dos meses mais animados do
ano. É também um dos períodos mais representativos para a cultura nordestina.
Como ‘diria’ o Rei do Baião
em sua música São João na Roça, "A fogueira tá queimando em homenagem a
São João, o forró já começou, vamos gente, rapapé neste salão". E é nesse
clima de entusiasmo que os grupos de quadrilhas juninas fazem sua participação
e tornam os festejos mais completos.
Eles tomam conta da Arena
Deodete Dias nos principais dias de Mossoró Cidade Junina. Homens, mulheres e
crianças, embalados pelo toque da sanfona que incendeia o coração do público,
superam limites e, com sorrisos nos rostos, encantam a multidão. Nas
apresentações deste ano, cerca de 200 grupos devem passar pela Arena.
Um deles é a Quadrilha
Inclusão com Paixão, que se apresentará no dia 15, às 19h. Com o tema ‘A chama
da inclusão vai aquecer seu coração, a companhia chega ao seu segundo ano.
Composta por 21 integrantes, sendo dez mulheres cadeirantes, dez homens
andantes, dos quais cinco são surdos, e um puxador, a turma tem o objetivo de
mostrar à sociedade que as necessidades especiais não são empecilhos para a
alegria.
“Quando a gente entra na
Arena e escuta aquela multidão aplaudindo, olhar para o grupo...”, diz a
diretora executiva da companhia, Benômia Rebouças sobre o que impulsiona os
integrantes. “O que motiva é fazer essas pessoas se sentirem como pessoas,
mostrar que podem. Não é porque estão em cadeiras de rodas que não podem”,
acrescenta.
A alegria do período
contagia a todos e facilita a missão. “Principalmente as músicas, o toque da
sanfona, o arrasta-pé, os fogos”, descreve a diretora executiva. “Acho que o
nordestino coloca toda a alegria dele nesse período”, complementa.
É esse entusiasmo que faz
com que eles se empenhem por horas, dias e até meses antes de chegarem à Arena.
O diretor artístico e coreógrafo da Inclusão com Paixão, Hebert Menezes, conta
que os ensaios do grupo, que ocorrem, semanalmente, começaram em março. São
quatro horas de preparação a cada encontro. Nessa reta, final, no entanto, a
perspectiva é de que os ensaios demorem até sete horas.
Até porque, eles não se
apresentarão apenas em Mossoró. A equipe também estará no Festival de
Quadrilhas Juninas da Inter TV, que acontecerá em Monte Alegre, no dia 14 de
junho, e em Natal, no dia 21. Para essa maratona, a quadrilha precisa estar
preparada.
Os sacrifícios não são só
físicos. Financeiramente, os grupos também se esforçam. Hebert Menezes conta
que a companhia recebe patrocínio do município, mas essa ajuda financeira não
tem data certa para ser repassada. Por isso, até lá, os componentes têm que
colocar as mãos nos bolsos e a criatividade para funcionar, a fim de organizar
eventos para angariar fundos e contribuir com o custeio das quadrilhas.
Os 40 casais da quadrilha
estilizada Lume da Fogueira também se preparam para dar o seu melhor no 16º ano
de apresentação do grupo. O vice-diretor e coreógrafo da equipe, Abraão Morais,
conta que a preparação começou logo após o Carnaval. Na realidade, desde
novembro eles vêm trabalhando em outras questões.
Ele não sabe precisar
quantos ensaios o grupo terá até o final da preparação, mas estima que o total
supere a marca de 100. Nessa reta final, os encontros acontecem todas as
noites, após às 22h e chegam a entrar pela madrugada. Os vizinhos do espaço
onde os ensaios são realizados não reclamam. Ao contrário, de acordo com o
vice-diretor, eles são grandes incentivadores.
A quadrilha, que,
inicialmente, era tradicional e se apresentava na Escola Manoel Assis, como o
nome de Rabo de Palha, saiu do pátio do colégio, se modificou e, desde então,
vem conquistando premiações. No ano passado, quando o grupo completou 15 anos,
venceu o concurso em Mossoró, foi campeã do Rio Grande do Norte e vice-campeã
no Nordeste. Diante de tantas premiações, a ideia de encerrar a carreira foi
vencida. Agora, eles pensam em continuar e defenderem os títulos conquistados.
O grupo se apresentará em
Mossoró no dia 19. Antes disso, eles estarão em Monte Alegre, em 15 de junho, e
Currais Novos, no dia 16. Já no dia 20, a quadrilha se apresentará em Apodi.
Este ano, Lume da Fogueira
terá como tema ‘Três nós e uma promessa’. O vice-diretor conta que a temática
remete à tradição das fitas nordestinas, presas aos braços de quem deseja
alcançar três desejos, um a cada nó. Nesse sentido, a proposta do grupo é expor
os pedidos na Arena e, se alcançar os desejos, pagar a promessa em frente ao
público.
O grupo deve contar com,
aproximadamente, 120 integrantes, pois, além dos 80 dançantes, tem o pessoal de
apoio. Todos dirigidos pela professora Liana Duarte. O reconhecimento do
público também é a receita para que esses jovens de 14 a 35 anos se esforcem
tanto, como confirma o Abraão Morais.
Quem assistirá os 25 minutos
de apresentação na Arena Deodete Dias pode nem imaginar o esforço feito por
cada um, mas mesmo com todos os ensaios e todo preparo físico, muitos chegam a
desmaiar, como confirma Abraão. Em outras circunstâncias, eles vão além dos
próprios limites físicos. “Tem horas que a emoção é tão grande, que aguenta e
deixa para cair no final, para não prejudicar o grupo”, diz o vice-diretor.
Mas todo o esforço vale a
pena. “Compensa demais. Nós só seguramos o choro porque somos artistas
experientes, mas depois a gente desaba”, confirma Hebert Menezes.
Culinária regional ganha
destaque
Milho cru é o produto mais procurado na
véspera de São João
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Na lista de ingredientes da
alegria junina, a culinária regional fica em evidência. “Não pode faltar a
pamonha e a canjica de jeito nenhum, nem o milho assado”, comenta o
proprietário de um dos estabelecimentos especializados na venda dos produtos,
Francisco Lobo Maia, o ‘Lobão do Milho’, como é conhecido na cidade.
Mesmo em períodos de seca,
produtores e vendedores se esforçam para garantir que as delícias estejam
presentes.
“A gente já é preparado. Tem
26 anos que vendemos milho em Mossoró e nesse período de São João é quando mais
vendemos”, diz Lobão. Para manter a ‘freguesia’, ele traz o milho de Limoeiro,
onde uma plantação irrigada do produto garante a oferta em períodos de seca.
Em seu ponto comercial,
próximo à Cobal, além do milho cru, o produto é vendido cozido. As pamonhas e
canjicas também chamam atenção dos consumidores.
Por dia, a produção desses
pratos atinge a média de 700. A quantidade varia de 800 a 1.000 pamonhas e
canjicas na véspera de São João. Essas delícias começam a ser produzidas,
diariamente, às 7h, e se estende até as 14h.
Além do ponto de venda, os
produtos abastecem supermercados e panificadoras da cidade. Fora isso,
ambulantes vendem as guloseimas pelas ruas de Mossoró.
A data de maior movimentação
é a véspera de São João. “Das três fogueiras, a que mais vende é a de São
João”, comenta Lobão. Nessa data, o produto mais procurado é o milho cru. E se
engana quem pensa que são apenas os mossoroenses que procuram pelo milho.
Pessoas vindas de Catolé do Rocha, Campo Grande e Serra do Mel, entre outros
municípios, também recorrem ao estabelecimento para garantir as guloseimas da
noite de festa junina.
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