Do UOL, em Brasília
Após serem contidos por um cordão de isolamento da
Polícia Militar, dezenas de manifestantes conseguiram furar o bloqueio e
invadiram a área externa do Congresso Nacional, em Brasília, nesta
segunda-feira (17), aos gritos de "a-ha, u-hu, o Congresso é nosso".
Eles ocuparam a marquise onde ficam as duas cúpulas, a da Câmara e a do Senado.
Segundo o tenente-coronel Maurício Gouvêa, que comanda a
ação policial, duas pessoas foram detidas. Em alguns momentos, os policiais
chegaram a usar spray de pimenta para reprimir os ativistas. Uma vidraça do
prédio também foi quebrada.
Os ativistas participam de um protesto que pede recursos
para educação, saúde, passe livre no transporte público e contra os gastos
públicos na Copa das Confederações e do Mundo (2014), entre outras reivindicações.
A manifestação ocorre simultaneamente em várias outras cidades do país, como em
Belo Horizonte, São Paulo, Natal, Belém, Campinas, no Rio de Janeiro e em
Florianópolis.
Os manifestantes continuam a subir na laje do Congresso
-- a PM só conseguiu bloquear uma das entradas.
Por volta das 19h30, o plenário do Senado encerrou suas atividades
em virtude dos protestos. Alguns senadores chegaram a tentar negociar com
manifestantes, sem sucesso.
O estudante Wellington Fontenelle, um dos organizadores
do protesto, disse que a intenção da manifestação não era invadir a sede do
Legislativo e que o movimento não representa o grupo que ocupa da rampa e a
cúpula.
Reivindicações
No ato, os principais gritos de guerra eram contra a
presidente Dilma Rousseff e contra o governador do Distrito Federal, Agnelo
Queiroz (PT). Voltados em direção ao Palácio do Planalto, os integrantes do
protesto gritaram "Isso é só o começo" e cantaram "Que país é
esse", música da banda Legião Urbana.
Outros políticos também foram alvo das reclamações. Era
possível ouvir gritos de "Fora, Sarney" e "Fora, Renan".
Um dos organizadores do evento no Facebook entregou à
polícia legislativa uma lista de reivindicações dos manifestantes. Entre os
itens, há um pedido para que a Câmara abra investigação sobre a violência
policial contra os manifestantes.
Manifestantes ouvidos pelo UOL afirmaram que foram
motivados por indignação contra a corrupção, contra PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que
tira poderes de investigação do Ministério Público e contra os gastos na Copa
do Mundo.
Também houve gritos contra os PMs -- "ei, polícia
você está do lado errado" -- e contra a Copa do Mundo de 2014 --
"Copa do Mundo, eu abro mão. Quero dinheiro na saúde e educação".
Com cartazes, faixas e bandeiras do Brasil, o protesto
por volta das 17 horas, no Museu da República, no início da Esplanada dos
Ministérios. Durante a caminhada, mais pessoas foram aderindo à manifestação,
que ocupou todas as faixas da Esplanada.
O protesto foi organizado pelas redes sociais. Na chegada
ao Congresso, um grupo chegou a invadir o espelho d'água em frente ao prédio.
Segundo a PM do Distrito Federal, cerca de 5.000 pessoas
participam do protesto e havia, inicialmente, 400 policiais no local. Mas após
a invasão do Congresso, a Secretaria de Segurança Pública do DF afirmou que
mais 3.500 PMs estão sendo deslocados para o local para "proteger os
prédios públicos". O reforço policial conta com homens da Tropa de Choque,
da Rotam e da cavalaria.
Procurado pela reportagem do UOL, o governador do
Distrito Federal afirmou, através de sua assessoria de imprensa, que não iria
se manifestar. O Palácio do Planalto emitiu nota oficial em que a presidente
Dilma afirma que "manifestações pacíficas são legítimas".
Entenda
A insatisfação que levou milhares às ruas em São Paulo,
Rio de Janeiro e outras grandes cidades nos últimos dias, em manifestações que
resultaram em inúmeros atos de violência, depredação e confrontos com a
polícia, vai além do descontentamento com a elevação na tarifa do transporte
público. E no momento em que o Brasil está sob os holofotes às vésperas de
receber grandes eventos internacionais, o movimento ganha corpo e se espalha
por outras capitais do país.
Desde a semana passada manifestantes, em sua maioria
jovens e estudantes, têm protestado contra o aumento de 20 centavos nas tarifas
do transporte público em São Paulo --foi de R$ 3 para R$ 3,20. Autoridades
descartam rever o preço e argumentam que o reajuste, inicialmente previsto para
janeiro, foi postergado para junho e veio abaixo da inflação.
Para a professora Angela Randolpho Paiva, do Departamento
Ciências Sociais da PUC-RJ, o movimento emana de uma insatisfação difusa de
estudantes. "É um grupo de estudantes, inclusive estudantes de classe média
que estão na rua num momento de uma catarse mesmo. Quer dizer, os 20 centavos
foram estopim para muita insatisfação com o que está acontecendo, e tomara que
usem essa energia para outros protestos."
"Eu diria que tem uma insatisfação quando você vê
que esses eventos [Copa das Confederações e Copa do Mundo] têm prioridade
número um na gestão pública. Todo dinheiro é gasto nisso", disse.
"Uma coisa é certa, o poder das redes sociais. Isso não pode ser
desprezado em hipótese nenhuma. Essa questão da passagem é muito inesperado ter
tomado essa proporção", disse.
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