FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA
Depois de um longo período
sem se manifestar sobre marketing político, o publicitário Duda Mendonça voltou
a falar. Absolvido no processo do mensalão e com seus bens liberados pela
Justiça, ele falou com exclusividade ao "Poder e Política", programa
da Folha e do UOL, sobre cenários para 2014.
Para Duda, a presidente
Dilma Rousseff é a favorita para se reeleger no ano que vem. Mas e se houver
segundo turno? "Eu acho um risco para a Dilma". Do seu jeito, ele
explica: "Para quem está hoje com 70% de popularidade, não faz sentido não
ganhar no primeiro turno. Significa que tem alguma coisa que está mexendo aí".
Ele se refere à taxa da aprovação pessoal da presidente em algumas pesquisas.
No Datafolha, a administração dilmista é aprovada por 57%.
Duda está com 68 anos.
"Eu amadureci", diz. Os últimos sete anos foram consumidos em grande
parte para se livrar do processo do mensalão. Agora, ele tem negócios no
Brasil, em Portugal e na Polônia. Deve voltar a campanhas políticas no ano que
vem. Pode ser o marqueteiro de Paulo Skaf, da Fiesp, que pretende disputar o
governo de São Paulo pelo PMDB.
Duda enxerga como
"risco maior" para Dilma na corrida presidencial o governador de
Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Por quê? "Ele é realmente novo. Ele é a
surpresa. O Aécio [Neves] já tem muito tempo aí. A Marina [Silva] também. Já
não são novidades".
Marqueteiro que elegeu Paulo
Maluf prefeito de São Paulo (em 1992) e Luiz Inácio Lula da Silva presidente
(em 2002), Duda enxerga nas manifestações de rua de São Paulo e em outras
capitais uma insatisfação difusa da população, "ainda mais quando tem uma
eleição de presidente por trás".
"Não estou dizendo que
tem um cunho eleitoral", diz ele. Mas "a eleição é uma coisa que mexe
muito com o país. Mexe muito com as pessoas pobres. Mistura tudo. É uma emoção
só".
Mesmo que o país esteja hoje
melhor do que há 10 ou 20 anos? "Depois de quatro anos, depois de oito
anos, as pessoas se habituam com as conquistas. Querem outras. Na hora que elas
sentem que qualquer coisa mexeu, elas esquecem um pouco tudo de bom que elas
ganharam. Querem mais".
Desde 2005, quando deu um
depoimento bombástico na CPI que apurou o mensalão, revelando ter recebido
dinheiro no exterior, Duda nunca mais falou com Lula. "Se houver um
momento em que a gente possa sentar, bater uma bola, tomar uma cerveja, é óbvio
que eu gostaria", diz. "Mas não basta eu gostar. Precisa ele gostar
também", diz. "A vida dele levou para um rumo, a minha levou para
outro".
A seguir, trechos da
entrevista, concedida no último dia 12:
Folha/UOL - Como está a sua
saúde?
Duda Mendonça - Está bem.
Atravessei momentos delicados. Tive um problema no olho. Meu médico achou que
devia fazer uma ligeira intervenção de laser. Um olho está já bem direitinho,
limpinho. O outro, não. Há tempos eu fiz [a operação a] laser para deixar de
ter óculos. Ele [o médico] fez um olho para longe e um olho para perto. Eu
tenho um olho para [ver de] longe e um olho para perto. Funciona
maravilhosamente bem. Há 13 anos que não uso óculos nem para longe nem para
perto. Tudo funciona bem. Agora, começou a dar irritação. Um tipo de vermelhão.
E aí, ele [o médico] resolveu fazer uma ligeira intervenção.
Há alguns anos, houve um
problema no coração mais sério?
Muito grave. Não cheguei a
ter um infarto. Mas, com as agonias todas desses últimos tempos, seis, cinco
anos atrás, fui parar no Sírio [Hospital Sírio Libanês, em São Paulo]. Não
cheguei a ter infarto, mas acabei botando duas pontes de safena e duas mamárias.
E nunca mais teve problema
no coração?
Graças a Deus, não. Não
cheguei a ter infarto. Deus me ajudou, passou. De lá para cá, tenho estado
muito bem.
Qual é a sua leitura sobre
essas manifestações de rua nos grandes centros, sobretudo em São Paulo, contra
o aumento da passagem de ônibus?
Isso é a democracia. As
pessoas têm o direito de se manifestar contra aquilo que acham errado, contra
aquilo que incomoda. Contra aquilo que bate no bolso, sobretudo. Agora, é
lógico que sempre no período de eleição essas coisas ganham uma dimensão...
Mas a eleição não é só no
ano que vem?
Não. A eleição está na rua.
É só você ler os jornais. Pega a Folha para você ver. A eleição está na rua.
Ainda mais quando tem uma eleição de presidente por trás. Acelera a eleição de
governador, acelera a eleição de deputado. Então, o calor está na rua.
Essas manifestações têm
algum cunho eleitoral?
Não estou dizendo que tem um
cunho eleitoral. Estou dizendo que, exatamente neste momento, um aumento na
passagem de ônibus atinge bem o povão. O que acontece? Aí, cabe ao governador,
o ao prefeito, aquele que aprovou a lei ou que foi colocar a medida em lei
fazer um estudo que ele [o aumento nas passagens] vale a pena. É importante
fazer aquilo? Vai atingir a população mais pobre. Vale? Essa é a única maneira?
Eu não sou governador. Nunca fui prefeito. Eu não sei. Mas eles sabem o que vai
acontecer. Às vezes, é necessário, é a única forma. Se começa com a inflação,
ele [o governador, prefeito etc.] entra com essa medida.
Agora, ele deve estar
esperando ou deve dar explicações para a população que convençam que é a única
forma. Veja, é assim: a eleição é uma coisa que mexe muito com o país. Mexe
muito com as pessoas pobres. Mistura tudo. É uma emoção só.
O Brasil é hoje melhor do
que há 10 ou 20 anos. Mas às vezes a população fica insatisfeita e prefere
mudar. É esse é o caso do Brasil?
É difícil dizer isso. Mas
essa é uma tendência natural no mundo inteiro. É como um técnico de futebol.
Depois de um tempo, você se acostuma com as vitórias e quer ter sempre. Na hora
que tem uma derrota, o pau quebra. Depois de quatro anos, depois de oito anos,
as pessoas se habituam com as conquistas. Querem outras. Na hora que elas
sentem que qualquer coisa mexeu, elas esquecem um pouco tudo de bom que elas
ganharam. Querem mais.
No plano nacional, o PT
governa há 10 anos. Em São Paulo, o PSDB governa há 20 anos. Há uma fórmula
sobre como se dá a fadiga de material na política?
Não tem essa fórmula. Se
existisse, era muita responsabilidade para quem lida com isso. Acontece que as
pessoas querem mais. E querem, às vezes, atitudes mais jovens. Querem
reviravoltas mais importantes.
Ninguém pode deixar de dizer
que o Brasil melhorou muito nos últimos anos. Mas, essa melhora as pessoas
assimilaram e querem mais. Elas estão esperando que isso aconteça.
As pessoas sabem diferenciar
o que foi a melhora por conta dos 8 anos de Lula e o que foi a deste de período
de dois anos e meio da presidente Dilma?
Acho que nesse caso é uma
coisa que dá seguimento à outra -com outro estilo de governar. Os governos da
presidente Dilma e do presidente Lula foram uma sequência. E isso tem
vantagens. Não há uma interrupção.
Só que o eleitor hoje está
muito mais sábio. Muito mais experiente, muito mais maduro.
Dê um exemplo.
Ah, ele [o eleitor] percebe
tudo. Bobo é achar que o eleitor é bobo. Na televisão, antigamente, quem batia
no outro, eles [os eleitores] aceitavam tudo. Depois descobriam que aquele que
batia, que criticava, que levantava críticas, ele era pior. Era pior do que quem
estava sendo acusado.
Ele [o eleitor] entendeu que
a televisão não é o espaço para bater nem para agredir ninguém. É um espaço
para se falar de planos, de progresso.
Mas isso sempre foi assim...
...Não. Nas primeiras
eleições diretas, quando a televisão foi usada, as vitórias, quase todas, foram
feitas à base de acusação, na base de crítica, na base de denúncias que depois
da eleição, às vezes, acabavam não sendo reais.
Como é que a eleição funciona
na cabeça das pessoas? A mudança grande é que, antigamente, o formador de
opinião era o jornalista, era a imprensa, eram os artistas. Hoje, a pirâmide se
inverteu.
Por quê?
Porque quem forma opinião é
o povo. É o igual. Hoje, as pessoas acham que você encher a sua televisão de
artistas não funciona. Elas acham que aquele povo está ganhando dinheiro como
um profissional qualquer para fazer esse trabalho.
Hoje, quem influencia é o
colega de trabalho, é o marido, é a mulher, é o filho, é a escola. E qual é a
função de uma campanha hoje? É dar argumentos. Para mim, não é nada mais do que
dar argumentos.
Para aquele que vai votar
usar?
Se tem um que quer votar em
você e tem outro que quer votar em mim -e nós estamos no clube de futebol, ou
estamos em um bar tomando cerveja, ou no metrô-, eu começo a discutir com você.
E esse cara que vai votar em mim vai discutir com você e vai dar os argumentos
dele. E o cara que quer votar em você vai dar os argumentos para você. E aquele
povo ali [ao lado] está assistindo. São dois iguais dando os seus argumentos.
Naturalmente, aquele que
tiver mais argumentos, que convencer mais, vai começar a contagiar a população.
Se você tem um grupo e a
pergunta é assim: "Vocês conhecem um hospital que foi inaugurado lá não
sei aonde?" As pessoas: "Não, não conheço". Mas se um diz assim:
"Olha, eu tive uma tia que levou uma sobrinha lá e funcionou muito
bem". Na mesma hora contagia a todos.
Se essa informação sair no
jornal, para o povão, não tem essa credibilidade toda. Para uma elite, tem.
E que papel tem a internet?
Cresce assustadoramente.
Mas ainda não tem o efeito
que alguns achavam. Por quê?
No ano retrasado, houve um
modismo por causa da eleição do [Barack] Obama [nos EUA] dizendo que a internet
teve esse efeito avassalador.
Nos Estados Unidos?
Nos Estados Unidos. Eu não
concordo. Além de a internet estar com um outro tamanho que agora no Brasil
começou a ter...
Nos EUA teve esse efeito?
Acho que não. Eu vi uma
palestra de uns marqueteiros de lá. Na verdade, aquilo [candidatura de Obama]
explodiu. Na hora que explodiu, explode em todos os veículos. A internet, como
uma coisa grande, enorme, começou. Mas o efeito dela foi muito mais receptor de
dinheiro que eles usaram na televisão. A televisão é, sem dúvida, o grande
veículo para uma campanha política.
Mas a internet cada vez mais
cresce. Vai crescer e até superar a televisão em algum prazo. Sobretudo, com um
público jovem.
Mas em 2014 será decisiva?
Acho que cada vez tem uma
fatia maior. Veja esta própria entrevista. Antigamente, era só na Folha. Hoje,
já vai ao mesmo tempo para a internet. Outra coisa: o acesso às pessoas mais
pobres. Antigamente, isso era uma coisa de elite. Hoje, não. Hoje, todo mundo
tem internet. Todo mundo vê.
No plano nacional, a
presidente Dilma Rousseff aparece como grande favorita para ser reeleita. Esse
cenário pode ser alterado?
O processo começou, mas
ainda não tem carta marcada para ninguém.
O que isso significa?
Duda Mendonça: Eu diria que
pode ter surpresas em São Paulo. Pode não ocorrer do jeito que as pessoas
esperam exatamente no cenário nacional. A presidente Dilma continua como a
grande favorita. Aqui em São Paulo, [Geraldo] Alckmin continua favorito. Mas
ainda tem tempo. Há pessoas novas chegando. Tem espaço para as pessoas
discutirem. Quando abre a televisão é que cada um tem a oportunidade de colocar
os seus projetos.
Mas o que poderia tirar o
favoritismo de Dilma Rousseff?
Eu não tenho uma bola de
cristal. Mas hoje há uma inflação que é perigosa. Só que há tempo e as medidas
podem ser tomadas. As pessoas vão acompanhando.
Depois, vão surgindo pessoas
novas. Dilma foi uma pessoa nova. Pessoalmente, tenho um carinho por ela muito
grande. Ela foi corajosa, tomou medidas impactantes. Duras, mas que precisavam
ser tomadas. Mas num país como o Brasil, que tem muitos problemas, resolvem-se
alguns e criam-se outros.
A estratégia de Lula e Dilma
é clara: um governo popular que trata da população menos favorecida -e muito
marketing. Essa é uma fórmula eficaz e deve ser replicada?
Lógico. Eu acho que as
pessoas, hoje, se decepcionaram muitas vezes com muitos eleitos. Muitos
governadores, muitos prefeitos, muitos deputados, muitos senadores, muitos
presidentes decepcionaram o seu público com promessas que não se cumpriam.
Hoje, o povo é muito pragmático. "Melhorou minha vida, eu estou com você.
Não melhorou, eu estou com outro".
Qual é a principal marca de
Dilma?
Os projetos sociais. A
continuidade que ela deu, a ampliação e as medidas ousadas que tomou. Por
exemplo, a poupança, as legislações dos portos, abaixar a conta de luz.
São medidas que atingem não
só o povão. Atingem também as indústrias, as empresas. O Brasil evoluiu. A
gente é muito exigente, é óbvio. E tem que ser. A gente quer que o Brasil a
cada ano vá melhor. Mas se você olhar, assim, como era o Brasil há 50 anos e
como é hoje, a gente andou muito para frente.
Dos pré-candidatos a
presidente de oposição, qual é o mais apetrechado para tentar desafiar o PT?
A grande luta seria primeiro
conseguir levar a eleição para um segundo turno. Aécio Neves foi um governador
de um Estado grande. Fez um governo elogiado. Marina [Silva] é uma figura
conhecida nacionalmente. Defende muito as florestas. É uma pessoa simpática. E
tem o Eduardo [Campos] que, verdadeiramente, é o novo. Ele é um cara simpático.
Fala muito bem. Tem uma grande experiência. É um governador com um nível de
aceitação imensa. É um quadro que eu não tenho dúvida terá oportunidade. Se não
agora, no futuro.
Por outro lado, a Dilma vem
fazendo o governo que tem um limite de aceitação enorme. Essa oscilação agora
não é significativa. Ela pode cair, pode subir. Essas curvas acontecem.
Pode haver segundo turno?
Segundo turno para quem está
no poder é perigosíssimo. O segundo mandato deve ser ganho no primeiro turno.
Se fica para depois, é sinal de que não teve uma maioria substancial para
vencer logo uma eleição.
É um risco para a Dilma ir
para o segundo turno? Por quê?
Eu acho um risco para a
Dilma. Mas um risco para o Alckmin [também, nas eleições do governo de São
Paulo].
Significa que não teve um
nível de aceitação capaz de ganhar no primeiro turno.
O Lula foi para o 2º turno e
ganhou...
Não estou dizendo que não
ganha. Mas o Lula poderia ter ganhado no primeiro turno. Não ganhou. Mas chegou
bem lá e depois cresceu. O que estou dizendo é o seguinte: que um presidente ou
governador que está no nível de popularidade que a Dilma está, e que o Alckmin
está em São Paulo, e que outros estão... A eleição tranquila deve procurar
ganhar no primeiro turno.
É uma obrigação?
Nunca é obrigação. Mas eu
acho que é mais fácil. No segundo turno, passa a ter um risco. Para quem está
hoje com 70% de popularidade, não faz sentido não ganhar no primeiro turno.
Significa que tem alguma coisa que está mexendo aí.
Quem que representaria um
risco maior para Dilma num eventual segundo turno?
É difícil dizer. Mas... pela
minha percepção é Eduardo Campos.
Por quê?
Porque ele é realmente novo.
Ele é a surpresa. O Aécio já tem muito tempo aí. A Marina também. Já não são
novidades. Eu acho que o Eduardo é um sujeito que vem crescendo. É ainda muito
desconhecido da população. Mas ninguém pode deixar de ver que ele é um cara
competente, um cara preparado, um cara jovem.
Seria um risco maior para a
presidente?
Um risco maior. Eu acho.
Seria algo verdadeiramente
mais novo?
Sem dúvida. Mas alguém
também formado, competente e com a visão muito semelhante. Se você olhar o governo
dele, também é muito voltado para as pessoas mais pobres. O Eduardo é alguém
que vai ter muita chance no futuro. É um político novo, simpático, fala muito
bem, é um bom administrador.
Se você perguntar o que eu
acho que vai ocorrer, acho que a Dilma tem muitas chances de ganhar. Até no
primeiro turno. A não ser que haja uma grande modificação. O que não significa
que o Eduardo, na próxima eleição, não seja um candidato muito forte.
Eduardo Campos ganha ou
perde se lançando candidato?
Acho que ele devia competir.
Em qualquer hipótese?
Em qualquer hipótese. Por
quê? Porque chegar de primeira, desconhecido, e ganhar uma eleição presidencial
é muito difícil. Você olhe que o Lula ralou em quatro eleições para poder
ganhar.
Então você vai ganhando
confiança. Quando alguém perde uma eleição e depois concorre novamente as
pessoas dizem: "Esse cara ou essa moça tem alguma coisa para
mostrar". Não é necessariamente uma derrota. É até uma prova de...
...de persistência?
De persistência. [O Eduardo
Campos] é um jovem. Tem um caminho enorme pela frente. Como o Aécio também tem.
Como a Marina também tem.
O que acho é que o novo,
realmente, hoje, é o Eduardo. E é a surpresa porque é um novo que tem
experiência.
Agora, o Brasil vem
melhorando. É bom para o Brasil, na minha cabeça, que a Dilma continuasse. Para
mim, pai de sete filhos e com sete netos, é bom que esse país cresça e evolua.
Mas eu acho o Eduardo Campos um bom nome.
Há notícias sobre o sr. como
possível marqueteiro de Eduardo Campos em 2014. O que acontece?
Nada. [risos]
Conversou com ele?
Não conversei com ele. Somos
amigos de muito tempo.
Gostaria de fazer a campanha
dele?
Não sei. Hoje, se você me
perguntar assim: "Você vai fazer campanha"? Essa é a resposta que eu
não tenho. Estou saindo do meu pesadelo, entrando em uma outra fase. Tenho
filhos e netos. Está na hora de começar a dar um pouco mais de atenção à minha
família. O meu trabalho aqui no Brasil e fora é muito intenso.
Então, se você me perguntar:
"O que você está fazendo nesse momento?". Retomando a minha vida.
Avaliando o que eu tenho e o que eu não tenho. Agora eu não tenho a desculpa de
dizer que faço campanha porque não tenho alternativa. Agora, não. Vou saber o
que quero verdadeiramente. Aí vou tomar a decisão. Pode ser que eu faça
campanha. Pode ser que eu não faça campanha.
Quando um governante é muito
bem avaliado é impossível derrotá-lo?
A palavra impossível não é
adequada. Mas é muito difícil. Sobretudo, se ele tiver um trabalho correto. E
porque as pessoas não querem correr risco.
Então não há muito para a
oposição fazer?
Eleição não é somente ganhar
ou perder. Isso é uma ilusão. Você não consegue, em um país como o Brasil, ou
em um Estado como São Paulo, como Bahia, como Minas [Gerais], de uma hora para
outra ficar popular, de uma hora para a outra ficar conhecido.
O [Paulo] Skaf teve 1% da
eleição passada. Agora, está com 16%. Na verdade, você tem um pilar, uma
escada. O que eu acho importante em uma campanha é sair melhor do que entrou.
Se não der para ganhar, OK. Mas você vai subir uma escada.
Dilma está cuidando bem da
imagem?
Acho que está. Para mim, é
desconfortável falar. O trabalho dela está bom. Agora, até que ponto o João
[Santana] pode dizer ou fazer...? A imagem de marqueteiros tem sido muito
ampliada. Você pode dar conselhos. O presidente ou governador aceita alguns ou
não aceita. Uns aceitam mais. Outros são mais cabeça-dura. A presidente Dilma
tem pulso firme. Pelo que conheço dela, deve aceitar alguns e não aceitar
outros.
Então, você não pode nem dar
o mérito inteiro do trabalho ao marqueteiro, mas também não dar a ele o ônus.
O PT, em abril, fez muitas
propagandas na TV assinadas por João Santana. O que achou?
O João é um bom
profissional. É difícil você saber não estando do lado de lá.
Os comerciais foram
eficazes?
Eficaz é dar resultado. A
propaganda não é feita para se gostar. Achei que cumpriu uma finalidade. Na
medida em que junta dois ícones fortes e um governo popular, ela reforça a
imagem dos dois [Lula e Dilma].
Como o sr. faria?
É difícil porque não é
adivinhação. Não é intuição. A minha linha é emoção. A eleição passa por uma
dose muito grande de emoção. A escolha é como uma compra de uma casa. É como um
casamento de um filho. É uma coisa que mexe muito com as pessoas. E é aí que a
televisão ganha importância.
Tem uma coisa que as pessoas
precisam entender. Existe forma e existe conteúdo. A forma é feita para ampliar
a força do conteúdo. A primeira coisa que precisa ter é conteúdo. Se não tem,
não faz mágica. Não tem forma. Mas com bom conteúdo, na televisão se faz o
trabalho de emoção, de criar uma embalagem que valorize aquilo é muito
importante.
Falta emoção no marketing da
presidente?
Não estou dizendo isso.
Estou dizendo que a minha linha é emoção. Em muitas campanhas se usa muito a
razão. Outras usam a emoção. Eu acho que não tem certo e errado.
Tem outra coisa que eu acho
um equívoco. Comecei há muito tempo a fazer as pesquisas qualitativas. E é uma
ilusão. Como se a pesquisa qualitativa fosse capaz de lhe dar o mapa da mina.
Você a seguia, botava lá e dava certo. Não é verdade. As pessoas não sabem o
que querem... Elas sabem o que não querem.
Você pega uma campanha média
-feijão com arroz- e mostra a um grupo. As pessoas gostam. Não incomoda, não
tem nada ali. Mas uma outra seria capaz de alavancar muito mais. Não foi
mostrada.
Outra coisa: nem sempre a
campanha vai funcionar na hora que você mostra a primeira vez. As pessoas
aceitam ou concordam. Lembro-me das campanhas de [Paulo] Maluf [a governador de
São Paulo, em 1990, e a prefeito de São Paulo, em 1992], do coração. Eu fiz um
teste de grupo. Levou bomba. Eu não entendia por quê.
Isso nos anos 1990?
Ele [Maluf] é muito
racional. Muito frio. Achei que precisava de alguma coisa para dar uma dosagem
de emoção. Quando testei no grupo [qualitativo], as pessoas [diziam]:
"Não, isso não é Maluf. Um coração? Isso aqui em São Paulo? Um coração é a
Lopes". É que tem uma construtora que tem um coração que pulsa [como
logomarca] em São Paulo. Fiquei com aquilo na cabeça. Depois, disse: "Vou
correr o risco". Larguei a pesquisa e botei no ar. Um mês depois, o mesmo
formato de grupo estava adorando a campanha.
Aprendi uma lição. Às vezes,
tem que contrariar algumas tendências para poder aparecer. Às vezes, as
campanhas ficam muito na mesmice. Dizem as mesmas coisas. Aí, não aparece. Se a
pessoa já não era conhecida, com discurso conhecido e previsível, nada
acontece.
A boa comunicação em
televisão, quando desliga, fica na cabeça. Tem obrigação de deixar alguma coisa
que mexa com você. Alguns políticos perguntam: "O que você quer desse
comercial"? Eu quero que a pessoa, quando acabar de assistir, diga:
"Gostei desse cara". Pronto. O "gostei desse cara" traduz
tudo o que eu quero. Não precisa dizer "ele fala bem" ou "o plano
de governo dele é bom. Ele é simpático". Não.
As pessoas não sabem dizer
"a fotografia está bonita", "o paletó dele está bom",
"ele tem um plano de governo bom". Não. As pessoas, simplesmente,
começam a criar uma empatia. A simpatia vai se ampliando.
Aí vem uma coisa que é o
sentimento mais perfeito: a admiração. Porque a admiração agrega coisas que
você nem sabe. Se você discute o Ayrton Senna e pergunta: "Você acha que
ele era bom filho"? [A resposta é]: "Seguramente. Era um cara tão legal".
Ou "será que ele era um bom marido?" Você nem sabe. Podia até bater
na mulher. [Mas a resposta é]: "Ah, ele era um cara tão legal, tão
simpático". [A admiração] é um sentimento maravilhoso. Quando você
consegue conquistar essa imagem, isso é extremamente poderoso.
A admiração?
A admiração. Para mim, esse
é o sentimento mais forte que existe.
Como são seus negócios no
exterior?
Em Portugal e na Polônia.
No Brasil, tenho uma Duda
Propaganda. Agora, fiz uma aliança com a Black Ninja, do [Antonio] Lavareda] e
do Benjinha [Benjamin Azevedo]. Estamos agora fechando. Cria várias unidades.
Não só em São Paulo, como no Maranhão, Recife. E cresce. No lado de marketing
político, não sei.
Na Polônia, o que é?
Propaganda. Na Polônia e em
Portugal. É uma história engraçada. Fui para Portugal quando a coisa aqui ficou
meio ruim para mim. Na verdade, ninguém queria dar uma conta a um marqueteiro
que estrava em um processo. A gente sofreu muito.
É uma rede de supermercados
em Portugal?
O Pingo Doce. É a segunda
maior rede de supermercados, um grupo fortíssimo com 350 lojas. Chegamos lá,
fizemos um projeto ousado: pagar os nossos custos e ganhar no aumento da venda.
O cliente ficou contente. Fomos ousados. Deu certo. A gente está há quatro ou
cinco anos.
Mesmo com toda dificuldade
que Portugal atravessa recentemente, tem sido um bom negócio para o cliente e
um bom negócio para a gente. Fizemos um nome em Portugal. Ganhamos prêmios. Fui
o publicitário do ano. Depois eles perguntaram: "Dá para você criar isso
na Polônia"? Eles têm 2.500 lojas. É o maior grupo privado da Polônia.
Supermercados também?
Também. Aí foi uma loucura.
[Eu sou] baiano, não sei falar polonês. [Imagine] criar música e campanha de
varejo, que é uma campanha popular, na Polônia? A gente deu conta do recado.
Quando o cliente perguntou:
"Duda, você acha que você dá conta? A sua turma da conta"? Eu disse:
"Eu não sei. Vamos tentar". Tentamos. Estamos lá já há dois anos.
Graças a Deus, cada dia melhor.
O marqueteiro João Santana,
que trabalhou com o sr. no passado, elegeu Lula em 2006. Em 2010, Dilma. Ele
elegeu vários presidentes no exterior: El Salvador, República Dominicana,
Angola e Venezuela. O João Santana é hoje o marqueteiro mais bem-sucedido da
história recente?
Você que julgue [risos]. Eu
não.
O João é um cara competente.
Temos estilos diferentes. O João é muito bom no conteúdo. Eu sou muito bom na
transformação do conteúdo em forma. Por quê? Porque a minha coisa é televisão.
Eu sou publicitário. Então, acho que o trabalho que nós fizemos juntos vários
anos foi muito bom porque era o efeito complementar.
Mas ele é um bom
marqueteiro. Inegavelmente, teve sucesso. Como você mede isso? É o sucesso. Eu
fiz o meu trabalho. Grandes vitórias, difíceis.
João Santana foi o publicitário
de Fernando Haddad na campanha pela Prefeitura de São Paulo. Houve críticas do
PT, mas no final deu tudo certo. O sr. teria feito algo diferente?
Duda Mendonça: Sempre
acontece isso. Se não ganha: "Ah, a culpa é da comunicação". Quando
ganha, o mérito é do candidato.
A mídia endeusou, durante
muito tempo, o marqueteiro. As pessoas acham que tem gênio. Não é gênio. É um
trabalho técnico.
Na eleição para prefeito de
São Paulo, houve algum ruído?
Não acompanhei a eleição.
Acho que uma campanha tem altos e baixos. Quando fiz a primeira campanha do
Lula...
...Em 2002?
Em 2002. Mais ou menos 30%
que queriam votar em Lula. Mais ou menos 30% não queriam. E 30% estavam na
dúvida, tinham medo.
Durante um tempo, a gente
entendeu que a rota era tentar levar logo essa disputa para o segundo turno
fortalecendo aquele núcleo dos que tinham vontade de votar, mas tinham medo.
Isso não funciona de um dia
para o outro. Dentro do próprio PT, houve momentos que disseram: "Será que
isso está dando certo"? Porque Lula vinha em uma linha horizontal. De
repente, deu uma subida.
O PT, na época, não queria
que o Lula fosse para o debate. Eu disse: "Meu Deus, se as pessoas acham
que o Lula não tem preparo para ser presidente da República, como é que ele
pode não ir a um debate"?
É importante em um debate
que se pare dois dias para botar a cabeça no lugar. E chegou em um dia lá na
reunião, vi o Lula discutindo política econômica com o [Aloízio] Mercadante e
com o [Antonio] Palocci. Eu me assustei. [Pensei]: "Rapaz, se isso for
gravado e botar no ar, ninguém espera". Eu me assustei com o Lula
discutindo política econômica com eles dois. Ele ia para um debate com o [José]
Serra e podemos perguntar para o Serra sobre política econômica. Aí, teve gente
do PT que disse: "Mas, peraí. Aí o Serra vai se sair muito bem". Pois
eu disse: "É a obrigação do Serra. Agora, o Lula é que vai surpreender por
ter a ousadia de discutir com o Serra". E deu certo. Foi para o debate,
discutiu, basicamente, grande parte do debate sobre política econômica. Não dá
para você enganar. Ali não dá para fazer pegadinha. Todo mundo tem uma
discussão de nível. E o Lula se fortaleceu com aquilo.
A tendência tem sido haver
menos debates ou nenhum debate no primeiro turno...
Eu tenho uma visão
diferenciada. Acho que se fala muito em diminuir a força do dinheiro nas
eleições. O candidato que tem mais dinheiro tem mais chance de ganhar do que o
candidato que tem menos dinheiro.
A força grande é televisão.
Por que não fazemos debates com temas transmitidos por um pool de televisão? O
candidato aluga um paletó ou toma emprestado, tem uma pessoa que o assessore no
que diz respeito a vídeo e posição de câmera. Mas não dá para "maquiar"
um cara. Não dá para pegá-lo e modificá-lo para suportar um debate de uma hora,
duas horas com outros candidatos de nível.
Imagine se tivesse um debate
por semana sobre um tema? Vamos discutir saúde. Vamos deixar um bloco pequeno
para também o bate-boca se não fica muito sem graça. Nos debates, as formas
estão muito enjauladas. Todo mundo vai buscando segurança do seu candidato. Eu
também fiz isso durante muito tempo. Na medida que você vai buscando a
segurança, e a televisão vai fazendo concessões, aquilo vai ficando enjaulado a
um ponto que quase ninguém pode sair dali. Fica uma coisa chata. O horário
também. O povo não assiste um debate às 11h, meia-noite. Devia ser 8h [da
noite]. Imagine um pool de debate às 8 horas da noite?
A presidente Dilma, no ano
que vem, deveria ir á debates?
Depende muito da posição.
Depende muito dela. Depende muito do momento político. Se há necessidade. Em
uma posição de liderança... o bom senso diz que você não vai correr risco à
toa. O debate é um risco.
É um show: não é somente o
que se diz que é importante. É o jeito que você diz. O formato que você chega e
se coloca. Tudo isso é, no final, uma frase que você dá, de efeito. É o que
fica para o debate inteiro.
Se você está muito bem, em
tese, é desaconselhável ir. Mas, se você tem o que dizer, se o momento não é
muito bom... É uma coisa de técnico de futebol. Até nos bastidores, antes de o
time entrar em campo, depende muito do adversário.
O sr. está fazendo campanha
ou cuidando da conta de publicidade da Fiesp [Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo]. O que é esse contrato?
Ganhei uma concorrência do
Sesi e do Senai para fazer duas campanhas específicas que já foram para o ar. E
fui convidado pelo [Paulo] Skaf. Fiz a campanha dele [a governador de São
Paulo, em 2010]. Depois, ele me pediu para me prestar uma assessoria à Fiesp.
Eles queriam começar a ter uma atuação maior. Ficar mais conhecidos. O que é a
Fiesp? É um órgão que representa a maioria das empresas em São Paulo e milhares
de trabalhadores. E tem -e deve, na minha opinião- de se pronunciar nos
momentos mais importantes da vida brasileira.
Agora sua empresa tem um
contrato com a Fiesp?
Com a Fiesp.
Licitação também?
Não. No caso da Fiesp, não
precisa de licitação.
É um contrato particular,
mas os dados podem ser divulgados?
Por mim, pode divulgar. Isso
quem diz é o cliente, mas eu não tenho segredo de nada.
Pode divulgar agora?
Não. Eu aconselharia você a
perguntar a eles.
O presidente da Fiesp, Paulo
Skaf, é também político e deseja ser candidato a governador de São Paulo. Há um
conflito de interesses nesse caso?
Acho que não. Você pode
olhar sob a ótica de que há um conflito, e você pode olhar sob a ótica de que
não há um conflito.
Por que não haveria?
Porque participar da vida
política nacional e dar depoimentos e opiniões sobre regras, leis e projetos da
presidente da República é uma coisa que não se pode botar um garoto como
apresentador. Não pode botar um ator para dizer aquilo. Aquilo é a visão
oficial de uma entidade como é a Fiesp.
O Paulo aparece na qualidade
de presidente e porta-voz daquela organização. Ele defendeu grandes mudanças
que tem beneficiado o Brasil. A Fiesp capitalizou muito e ele também. Não acho
um conflito. Poderia fazer o quê? Bota quem ali? Um garoto propaganda, um ator?
Não tem peso. Eu já fiz isso com loja de varejo. Você coloca o dono da cadeia
de varejo falando sobre uma liquidação e se comprometendo abaixar os preços tem
uma credibilidade muito maior. Por quê? Porque ele é o presidente. Então nesse
caso ele [Skaf] falando pela entidade tem um peso muito maior. Ele apareceu
mais, ficou mais conhecido, ficou mais respeitado.
Essa sua relação com a Fiesp
se sobrepõe à relação política para a eleição de 2010?
Não há nenhuma ligação. A
ligação existe assim: eu sou o mesmo. Mas a minha empresa não faz marketing
político. Tanto que estou me associando ao Lavareda. São duas coisas
inteiramente diferentes.
Em 2010 a campanha do Paulo
Skaf a governador foi cuidada...
Duda e uma equipe.
Pela sua equipe.
Por Duda e uma equipe.
Porque na verdade eu não tenho uma equipe grande, fixa.
Notas na mídia sugerem que
dessa campanha de 2010 sobrou uma dívida grande. Ficou uma dívida com a sua
empresa?
Uma campanha que não ganha
tem dificuldades financeiras. Nada que não se possa, de comum acordo,
equacionar e cumprir. Ele [Skaf] cumpriu, o PMDB cumpriu todos os tratos comigo
que estavam em contrato. As minhas dívidas foram pagas.
Skaf apareceu no mês de
junho, no Datafolha, em segundo lugar nas pesquisas para governador de São
Paulo. Quais as chances reais de ele, a partir desse patamar, progredir ou não?
Ele é um competidor forte
para a eleição de governador. Até onde vai, infelizmente, não dá para prever.
Ele saiu de 1% [em 2010], tinha um minuto na televisão. Chegou a 16% [agora]. A
Fiesp cresceu muito.
O trabalho que fizemos,
modéstia à parte, tornou o Sesi e o Senai muito mais conhecidos. Não só
conhecidos, como agregados à Fiesp. As pessoas não agregavam.
Tudo isso que ajuda a Fiesp
valoriza seu presidente.
A fadiga material do PSDB no
Estado de São Paulo existe de fato ou isso é uma lenda?
É difícil radicalizar. Acho
que o Alckmin está aí com um nível satisfatório. Depende muito do fim do
governo, a hora de aparecer o trabalho. Está na hora de ele botar o bloco na
rua e dar conteúdo às coisas.
No PT, muitos acham que
chegou o momento de o partido ganhar o Estado de São Paulo. Qual que é sua
avaliação sobre isso?
Acho que a eleição de São
Paulo vai ser uma eleição muito complicada. Do jeito que eu estou enxergando, a
não ser que haja grandes mudanças, ela vai ser uma eleição muito complicada.
Em que sentido complicada?
Todos. Por exemplo, o PT é
um partido forte. Tem a candidata a presidente mais forte. O Alckmin mostrou que
é bom de eleição, na outra eleição ele conseguiu ganhar e agora continua num
patamar muito alto, apesar de ter problemas políticos, problemas de segurança,
problemas agora de aumento de ônibus. Mas ele vem se mantendo. Por outro lado,
tem o Skaf, um nome novo e que vem crescendo e ganhando uma posição.
Surpreendeu no Datafolha
Geraldo Alckmin ganhar com larga margem de vantagem até contra o ex-presidente
Lula?
Não. Acho que as pessoas,
agora, não entendem que Lula possa ser candidato ao governo de São Paulo.
Pesquisa é um retrato de um momento. Se o Lula resolver se lançar, o patamar
dele não é aquele. O patamar dele é mais alto. Agora, é preciso que ele, ao se
lançar, faça uma campanha. Acho que nem gente do PT acredita que ele seria
candidato. Se ele eventualmente for, acho que ele é um candidato forte. Imagine
uma chapa Dilma candidata a presidente e Lula governador de São Paulo? É uma
chapa fortíssima. Quem sabe se ele não vai sair? Não sei. Tem aí ainda muitas
interrogações.
É muito importante para o PT
tentar ganhar. E o PMDB? O que diz o PMDB? O que parece é que vai ter candidato
próprio. Mas como é que fica no segundo turno, se tiver segundo turno? Há
muitas composições e todas elas, se você olhar, começam com tempo de televisão.
Por quê? Porque ali é o mapa da mina.
O que vai ser do PT numa era
pós-Lula e eventualmente pós-Dilma?
Não sei. O PT já teve
momentos maravilhosos. Já teve momentos críticos, difíceis. Depois, ninguém
esperava que Dilma chegasse ao ponto que ela chegou. Ela é uma pessoa muito
segura, dura até, mas que é uma pessoa diferente do Lula. Sem dúvida nenhuma, o
Lula é mais o político, o que conversa. Ela é mais decidida. E foi uma surpresa
para o brasileiro. Mas teve acertos. Tanto que está no patamar que está.
Outro dia na TV teve a
propaganda do Partido Social Cristão, o PSC, que cresce a cada eleição.
Pretende agora lançar um candidato a presidente, o pastor Everaldo, com valores
religiosos, conservadores, da família. Há espaço no Brasil para esse tipo de
força crescer?
Lógico que tem.
Por que nunca cresceu?
Porque nunca teve a força
que tem hoje. Mas eles vêm crescendo a cada ano que passa. Não sei se vai
ganhar, mas a bancada que eles têm hoje de deputados, de vereadores, é muito
grande, ainda não chegaram na majoritária, mas eles vêm crescendo.
Uma campanha a presidente,
com o pastor Everaldo como candidato, terá na faixa de 1% a 2% dos votos ou
mais?
Depende dele. Depende de
tempo de televisão, basicamente para ele poder aparecer.
Terá pouco tempo, pois não é
um partido grande...
Acho que ele terá uma
influência na eleição. Num segundo turno vai ser extremamente procurado.
No primeiro turno ele tem
potencial para ter quanto?
Diria que no mínimo 5%.
Tudo isso?
Porque o universo de
evangélicos no Brasil hoje cada vez cresce mais, em qualquer lugar.
Mas eles não votaram em
Marina Silva na última vez?
Não sei. É difícil dar um
parecer de uma coisa que você não tem número, não tem pesquisa. Os evangélicos
hoje são uma força. E eles têm uma coisa: jogam junto. Você vê de repente um
deputado, que ninguém sabia quem era, sair como o mais votado, sai como o
segundo mais votado. Eles são uma forca. E uma força coesa.
Eles são bons oradores.
Porque eles falam muito, têm habilidade de dicção. Falam a linguagem que o
público deles quer.
Será um ator relevante?
Um ator. Eu não sei se
relevante, mas não um ator lá de baixo não. Eu acho que sobretudo num segundo
turno o apoio dele [PSC e evangélicos] vai ser muito disputado.
Marina Silva em 2014 pode
não repetir o desempenho de 2010?
Ela não vai ser nesse ano a
novidade que foi naquele ano. Mudou. Ela ficou ausente muito tempo. Tem atores
novos nesse novo espetáculo. É difícil de você dizer. Acho que muita gente
gosta dela. É uma pessoa fantástica, humilde, direita, tem trunfos enormes.
Acho que ela vai ter uma participação relevante, mas não acho que atingirá o
patamar do ano passado.
O sr. foi absolvido pelo
Supremo Tribunal Federal no processo do mensalão. Seus bens recentemente foram
desbloqueados. Como está se sentindo?
Meus verdadeiros bens nunca
foram bloqueados. Minha família, meus filhos, meus netos, minha mulher, meus
amigos. O que aconteceu com o bloqueio de meus bens foi uma coisa muito moral
em cima de mim. O que é que eu fiz? Passei uma pena muito grande. Serviu de
experiência. Eu me perguntei muito: "Por quê?".
Que resposta encontrou?
Algumas coisas eu amadureci.
Outras ainda vou amadurecer. Neste momento, a tempestade passou. É sacudir a
poeira, dar a volta por cima. Não vou falar sobre mensalão. Acho que o
Supremo... A lei é lei. No máximo, posso dizer que às vezes demora, mas
acontece. No meu caso, fui justiçado e tenho que me sentir contente com isso,
com meus advogados e com os juízes que me julgaram.
Não tenho nada a reclamar.
Sofri no momento de sofrer. Mas passou. Agora é a volta por cima.
Olhando em retrospecto, o
sr. se arrepende de alguma coisa nesse episódio do mensalão?
Essa é uma dúvida que só vou
esclarecer mais para a frente. Tive tempo para refletir. Não posso dizer ainda.
Às vezes, você tem que digerir com o passar do tempo. Tem um livro que comecei
a escrever perguntando: vale a pena falar a verdade ou não vale a pena falar a
verdade? Houve um tempo que o título certamente seria não vale a pena falar a
verdade. Hoje, sinceramente, está bem equilibrado.
Se o sr. não tivesse
decidido espontaneamente falar naquele dia na CPI, em 2005, talvez muita coisa
não tivesse acontecido...
Quem sabe? Eu não gosto
muito de olhar para trás. Tenho um temperamento muito otimista. Olho muito para
a frente. Acredito muito nas forças do universo.
Acredito que de alguma forma
talvez estivesse escrito na minha história que eu tinha que passar por isso. O
que me perguntei sempre é: por quê? E o que devo aprender com isso? E agora,
qual é essa lição toda, com tudo que aconteceu, o que devo fazer daqui para a
frente? Essa é minha preocupação. Daqui para trás, não. Daqui para trás,
aconteceu. Não tem jeito.
Graças a Deus, levantei de
cabeça erguida. Meus filhos estiveram do meu lado o tempo todo.
Encontrou alguma resposta?
São respostas muito
profundas. Hoje, não estaria pronto, sobretudo para falar na televisão. São
coisas muito íntimas que tenho refletido e ainda tenho muito a refletir.
Até o mensalão, sua carreira
profissional era muito bem-sucedida. Se não tivesse acontecido o mensalão, o
sr. teria participado das eleições do presidente Lula, em 2006, e talvez da
campanha de 2010. Tudo isso acabou ficando fora do seu horizonte...
Se olhar por esse lado, eu
podia ter feito a minha operação e ter morrido. Não precisaria ir a Portugal e
não enfrentar o desafio que foi na Polônia. As coisas às vezes acontecem. Eu
acho que tive uma família muito mais agregada, meus filhos chegaram muito mais
para perto de mim. Sofremos todos juntos e isso uniu mais a família, preparou
muito mais os meus filhos.
O sr. era muito próximo do
então presidente Lula. Depois do mensalão, voltaram a se falar?
Não, eu acho...
Nunca mais?
Não, nunca mais. A vida
distanciou a gente. Não é... e é normal. Naquele momento, ele seguiu o caminho
dele. Eu segui o caminho que restou para mim. Continuo admirando-o, continuo
admirando o trabalho que ele fez, acho que é uma pessoa popular, cumpriu as promessas.
Fazer a campanha dele para mim foi um marco. Sou conhecido no mundo inteiro
como o cara que fez a campanha do Lula.
Mas nunca mais conversou com
ele?
Não houve oportunidade. Quem
sabe um dia a gente não senta e...
Gostaria de ter essa
oportunidade?
Se ele tivesse oportunidade
e gostasse de sentar comigo para conversar. Se houver um momento em que a gente
possa sentar, bater uma bola, tomar uma cerveja, nem que seja conversando sobre
política, é óbvio que eu gostaria. Mas não basta eu gostar. Precisa ele gostar
também. A vida dele levou para um rumo, a minha levou para outro.
Lula ficou magoado naquela
época. Naquela semana do seu depoimento, sem falar seu nome, ele falava em
traição...
Acho que nunca ele falou que
eu o traí. Primeiro, não é verdade. Eu não traí ninguém. Não é do meu feitio.
Não é do meu caráter trair ninguém. Ao contrário. Fui lá e falei a verdade.
Isso não é trair. Eu falei exatamente o que aconteceu, tanto que fui
fiscalizado e o que descobriram foi exatamente o que eu falei. Eu recebi o meu
dinheiro, eu tinha um contrato. O que que há? Eu ia deixar sem receber? Então,
não. Falei o que devia falar.
Agora, sabe, acho que no
meio de tudo isso, no Planalto, tem muita gente que gosta daquele bochicho,
daquele fuxico. Não sei o que chegou ao ouvido do presidente. De alguma forma é
possível que ele não tenha gostado das coisas que falei. Como é possível que eu
também não tenha gostado de outras coisas que ele falou. A vida é assim: eu
continuo o admirando. O destino quis que a gente se separasse. Mas eu torço por
ele. Quando ele ficou doente, fiquei muito preocupado. Torci por ele, rezei por
ele. Torci pela vitória da presidente Dilma.
O sr. teve um contato uma
vez com a presidente Dilma. Apresentou um jingle. O que houve?
Houve um momento, no começo
da eleição [de 2010]. Tive uma conversa com ela. A oportunidade poderia ter
surgido, mas na verdade acabou não surgindo. Era difícil naquele momento se
agregar um lado com outro. Se eu fosse naquele momento fazer a campanha dela,
haveria o mensalão todo, eu era réu do mensalão. Então aquilo era uma
vulnerabilidade real. Não aconteceu e acho que não deveria ter acontecido
mesmo. Foi melhor que eu não fizesse.
Foi o único contato que teve
com ela nesses anos todos?
Foi o único contato.
E não teve nenhum
interlocutor de Lula esses anos todos que tentou aproximá-los?
Não. Não tinha porquê. Tenho
amigos que são amigos dele, que continuam amigos, mas a coisa política seguiu
por outro rumo. Não houve um motivo. Acho que João [Santana] preencheu essa
lacuna. Vem se mostrando competente. Então, acabou.
Às vezes o sr. pensa nisso?
Já pensei mais. Hoje, não.
Pensava como?
Já pensei sobre... Puxa
vida, foi interrompido um projeto. Mas por outro lado, é engraçado... Eu tenho
68 anos. A minha postura hoje, toda essa turma de marketing, se você tirar em
cada 100, você tira 5, todos começaram comigo. O João [Santana] eu não posso
dizer que começou comigo, mas nós crescemos juntos. Acho que ele virou um pouco
publicitário, e eu virei um pouco jornalista. A gente aprendeu juntos. Mas
muita gente foi formada por mim.
Hoje me vendo como um cara
que criou uma geração de marketing político, uma nova profissão. Me passa pela
cabeça até começar, quem sabe, fazer um curso disso.
Estou muito mais hoje na
posição de fazer coisas. Acho que está na hora de eu pegar campanhas culturais.
Tenho vontade de fazer filmes. Gosto de fazer música. Meus jingles todos eu que
faço. Fiz a música do motel, que [Maria] Bethânia gravou, aquela [cantando]
"de repente eu fico rindo à toa sem saber por quê"... E virou música,
até tema de novela. Esse é um caminho... Não vou ficar sem fazer nada. Hoje,
crio cavalo, crio boi, escrevo, faço festa, faço aniversário de neto, faço
campanha na Polônia. Eu não paro. Então minha vida vai boa. Estou feliz. O
saldo de tudo isso: eu amadureci muito, porque o saldo é bom.
Nessa novela do mensalão,
acabou tudo ou ainda vão aparecer detalhes?
Acho que não. Já foi muito
futucado.
Da sua parte, acha que vai
contar algum detalhe que tenha faltado?
Não, até porque não gosto de
olhar para trás. Para mim, passou. E passou tudo, o bom e o ruim. Tudo. Agora,
é bola para frente. A Copa do Mundo passada passou, o que interessa é a futura.
Fonte: Folha.Paulo
0 comentários:
Postar um comentário