A cena impressiona todos os
que já a presenciaram. Sempre que Marina Silva é esperada em algum lugar, à sua
chegada faz-se um silêncio reverente. Interrompem-se as conversas, suspendem-se
as movimentações e ninguém sai correndo para falar com ela — até que, sentada,
mãos cruzadas sobre o colo, tome a iniciativa de dizer a primeira palavra. O
semblante severo e o olhar beatífico inspiram esse distanciamento meio fora de
lugar em um mundo onde até o papa dispensa rapapés e se mistura alegremente às
multidões. Mas esse é o estilo de Marina, reafirmado por sua figura frágil de
50 quilos e 1,65 metro de altura. O que ela diz, em um tom meio palanque, meio
sacristia, completa a cena. Marina defende a preservação da Floresta Amazônica,
o uso da tecnologia a serviço do meio ambiente, uma política livre de
fisiologismos e um mundo sem corrupção. Quem há de ser contra? Se hoje são
causas das quais ninguém discorda, é certo que Marina as abraçou antes e com
mais afinco que a maioria dos políticos. Bastaria isso para Marina, feita
candidata a presidente pela trágica morte de Eduardo Campos, amedrontar os
outros concorrentes. Ela foi candidata a presidente em 2010, quando recebeu
sólidos 20 milhões de votos.
Mas tem mais.
Perto de sua trajetória de
vida empalidecem outras histórias, como a do retirante que foi para São Paulo
de pau de arara, virou metalúrgico, sindicalista e presidente. Marina foi
seringueira, trabalhou como empregada doméstica, só aos 16 anos aprendeu a ler.
Venceu a miséria, a ignorância, a doença e tornou-se líder ambientalista
mundialmente reconhecida. Foi deputada, senadora, ministra. Há uma semana ela
apareceu tecnicamente empatada com o senador Aécio Neves, candidato do PSDB,
segundo a última grande pesquisa do Datafolha. Agora pode até mesmo estar a
menos de dois meses de se eleger presidente da República, segundo os dados
parciais de pesquisas, sondagens de partidos e de instituições financeiras. Com
tantos atributos, circunstâncias favoráveis e experiência política, Marina é,
no essencial que se exige de um chefe de Estado, uma esfinge.
(...)
Por Mariana Barros, Veja
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