05/05/2013 - 02h00
NELSON BARROS NETO
DE SALVADOR
RENATA MOURA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NATAL.
Considerada a pior dos últimos 50 anos, a seca que atinge o
Nordeste desde 2011 já provocou ao menos R$ 3,6 bilhões em perdas diretas nas
lavouras da região.
Mandioca importada do Sul do país é até 30% mais barata.
Também derrubou o saldo de empregos no campo ao menor nível
em dez anos e reduziu pela metade, nas áreas afetadas, a exportação de produtos
como o mel.
O prejuízo na produção chegaria a R$ 6,8 bilhões se fossem
computados os efeitos da perda de quase 5 milhões de cabeças de gado entre 2011
e 2012, diz o economista-chefe do IBGE em Natal, Aldemir Freire.
Efeitos da seca no Nordeste
Felipe Moura/Folhapress
O empresário Jânio dos Anjos, 44 anos, fechou as portas de
sua fábrica por não ter matéria-prima para a produção de farinha de mandioca.
Na pecuária nordestina, a projeção é de redução de 16,3% no
rebanho de 29,6 milhões de cabeças em 2011. Para Pedro Gama, da Embrapa
Semiárido, o setor vai demorar até dez anos para se recuperar do baque da
estiagem.
Para chegar, a pedido da Folha, ao balanço do rombo
econômico da atual seca, Freire, do IBGE, comparou valor e quantidades de dez
culturas (feijão, castanha de caju, arroz, mandioca, milho, algodão, banana,
cana de açúcar, café e soja) produzidas na região em 2011 e 2012.
O tombo estimado, a preços de 2011, foi de 18%: R$ 20,1
bilhões para R$ 16,5 bilhões. Feijão (R$ 961 milhões) e milho (R$ 532 milhões)
lideraram as perdas.
O prejuízo equivale, por exemplo, a quase metade do valor
total da obra de transposição do rio São Francisco, a mais importante da
região, orçada em R$ 8,2 bilhões.
"Mesmo se pegarmos os preços de 2012 [quando a inflação
acelerou com as perdas de safra], teríamos prejuízo superior a R$ 2
bilhões", diz o economista do IBGE.
No Ceará, por exemplo, com 96% das cidades em estado de
emergência devido à estiagem, a produção agrícola caiu de 1,9 milhão de
toneladas para 230 mil toneladas. Apenas 30% das áreas agricultáveis têm algum
plantio.
EMPREGO
A seca também tem afetado a ocupação na agropecuária. Na
comparação com 2011, quando foram criados mais de 13 mil empregos com carteira
assinada, 2012 registrou deficit de 18 mil vagas -marca recorde na década.
O estoque de empregados na atividade, que chegava a 244.825
pessoas em 2012, fechou março em 223.640.
"A mecanização nas lavouras e outros fatores eliminam
postos de trabalho, mas a seca é a grande responsável pelas demissões",
diz o diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura,
Antoninho Rovaris.
O cenário se agrava porque a maioria dos atingidos pela
estiagem é de produtores sem carteira assinada que "perderam os meios que
tinham para sobreviver", na descrição de Gilberto Silva, da Federação
Potiguar dos Trabalhadores em Agricultura.
EXPORTAÇÕES
O Nordeste, que responde por quase 100% das exportações de
castanha de caju do Brasil e por 27% das vendas de mel de abelha, também viu o
comércio exterior perder força.
No caso do mel, houve redução de 53% em relação a 2011. Para
a castanha, o valor exportado caiu 18%.
Com a escassez de produto local, as beneficiadoras passaram
a importar castanhas da África. "Isso aumentou custos em 15%, elevou o
preço e reduziu o valor exportado", diz Felipe Timbó, gerente da Iracema,
que tem unidades no RN e no Ceará.
Para Fran Bezerra, do Banco do Nordeste, ao menos parte do
impacto econômico da atual seca tem sido amenizada por ações governamentais de
transferência de renda, acesso ao crédito e recuperação do valor do salário
mínimo, hoje em R$ 678.
Até o dia 10 de abril, pelo balanço mais recente, 1.367
municípios e 10,4 milhões de brasileiros sofriam os efeitos da estiagem. E a
previsão é de ainda mais seca entre junho próximo e fevereiro de 2014.
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