ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO
A possibilidade de que a
desaceleração na China e a retomada dos EUA ocorram em ritmo mais forte do que
o previsto representa um risco para o Brasil.
As duas maiores economias do
mundo caminham em direções opostas.
Se esse descasamento se
acelerar rapidamente, o Brasil poderá se deparar com dificuldades para
financiar o crescente rombo em suas contas com o exterior, que chegou a 3% do
PIB (Produto Interno Bruto).
Uma fraqueza mais acentuada
da China levaria a uma desaceleração maior das exportações brasileiras, podendo
provocar um maior deficit em conta-corrente.
Esse saldo negativo nas
transações do país com o exterior precisa ser financiado com recursos externos.
Nos últimos cinco anos de
deficit, os investimentos estrangeiros diretos cobriram os buracos. Em 2013,
essa situação mudou. O país voltou a depender de recursos mais voláteis, como
investimentos em ações e renda fixa.
A expectativa de analistas
para a entrada desses fluxos no Brasil em 2013 é boa.
A possível pedra no caminho
pode ser uma recuperação mais rápida dos EUA.
Isso levaria parte desses
recursos a sair de mercados emergentes e migrar para ativos americanos,
principalmente em um possível cenário de alta de juros nos EUA.
PROBABILIDADE
A probabilidade de que
desaceleração mais forte na China e recuperação mais robusta nos EUA ocorram ao
mesmo tempo ainda não é considerada grande. Mas tem crescido, segundo
analistas.
"A chance hoje está
entre 10% e 15%. Não é grande, mas também não se pode dizer que seja um risco
pequeno", diz André Loes, economista-chefe do HSBC.
Editoria de Arte/Folhapress
Economistas ressaltam que,
ainda que esse cenário arriscado para o Brasil se concretize, o impacto para a
economia não seria drástico como em crises do passado.
Reservas de US$ 375 bilhões
ajudariam a conter uma desvalorização do real.
Mas, segundo o economista
Affonso Celso Pastore, a tendência seria de uma "correção
contracionista" no Brasil, ou seja, com impacto negativo sobre a
atividade:
"Se houver restrição de
capital quando os Estados Unidos começarem a retirar liquidez do mercado, o
câmbio no Brasil sofrerá um ajuste", disse Pastore durante seminário da
EMTA (Emerging Markets Trade Association) na última quinta-feira.
Uma desvalorização mais
forte do real pressionaria a inflação, que está próxima ao teto da meta, de
6,5% (o centro da meta é 4,5%).
Isso poderia forçar o Banco
Central a aumentar mais os juros, freando o crescimento bruscamente.
CHINA
A expansão da China já tem
perdido ímpeto, o que levou a uma queda nos preços de commodities.
Para Fernanda D'Atri,
economista do Bradesco, embora a demanda da China por commodities como aço deva
crescer em ritmo menor, o apetite do país por produtos agrícolas seguirá firme.
Esse é o cenário da maioria
dos analistas, que, no entanto, se mostra mais preocupada. Recentemente, bancos
e consultorias soltaram relatórios sobre os riscos de expansão menor que os
cerca de 8% previstos para 2013.
"Se a China se
desacelerar mais fortemente, será um cenário preocupante para o Brasil",
disse a economista Lia Valls Pereira, da FGV.
Duncan Innes-Ker, da EIU
(Economist Intelligence Unit), afirma que os maiores riscos para a China são a
dependência de altas taxas de expansão do crédito para crescer e a falta de
reformas.
Em um aparente passo para
atacar os problemas, a China anunciou ontem que abrirá espaço para maior
participação da iniciativa privada.
Fonte: Jornal Folha de S.Paulo - Mercado.
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