Fichas-sujas comandam prefeituras nos bastidores
LUIZA BANDEIRADE BELO HORIZONTE
DANIEL CARVALHO
DE SÃO PAULO
NELSON BARROS NETO
DE SALVADOR
Políticos fichas-sujas, que
na reta final das eleições do ano passado abandonaram a disputa para eleger
familiares como prefeitos, estão agora atuando nas administrações dos parentes.
Em alguns municípios, a
oposição diz que os atuais prefeitos são laranjas e que quem comanda a
prefeitura, de fato, são seus padrinhos, que abriram mão da candidatura para
não serem barrados pela Lei da Ficha Limpa.
Em ao menos cinco cidades do
país, foram nomeados para chefiar gabinetes ou secretarias. Em outras sete, dão
expediente na prefeitura e colaboram informalmente.
Nas eleições, em pelo menos
33 cidades, candidatos que corriam o risco de ser barrados pela Lei da Ficha
Limpa desistiram em cima da hora e elegeram filhos, mulheres e outros
familiares.
Em alguns casos, seus nomes
e suas fotografias continuaram sendo exibidos nas urnas eletrônicas, mas os
votos foram computados para as pessoas que os substituíram como candidatos.
Editoria de Arte/Folhapress
Também há cidades em que
políticos condenados ou com contas rejeitadas nem se candidataram e lançaram
parentes desde o início da campanha. Muitos tinham o direito de recorrer ao TSE
(Tribunal Superior Eleitoral) se quisessem se candidatar, mas descartaram a
opção.
PREFEITO DE FATO
Em Caputira (MG), o
ex-prefeito Jairinho (PTC) admitiu que ajuda o filho, o prefeito Wanderson do
Jairinho (PTB), a administrar a cidade. "Se você tivesse um pai prefeito,
não ia perguntar as coisas? Mas ele é o prefeito."
Um vereador que não quis ter
seu nome divulgado disse que Jairinho é o prefeito de fato. "O menino foi
só para fazer campanha." Segundo ele, Jairinho despacha na prefeitura e
atende a população.
Em Cajazeiras (PB), o
ex-prefeito Carlos Antonio (DEM), que teve contas rejeitadas quando prefeito,
foi nomeado secretário de Planejamento pela mulher e prefeita, Denise Oliveira
(PSB).
Ele renunciou três semanas
depois por causa de uma lei municipal que proíbe os fichas-sujas de ocupar
cargos na administração. "Mas isso não vai impedir que ele me ajude",
disse ela.
Em Conde (BA), o ficha-suja
Paulo Madeirol (PSD) -- que em 2012 disse à Folha que elegeu a mulher, mas
seria o prefeito de fato-- é secretário de Administração e participa de
reuniões com a prefeita, Marly Madeirol (PTN).
Em Padre Paraíso (MG), a
prefeita Neia de Saulo (PT), que em 2012 disse à Folha que o marido,
ex-prefeito ficha-suja, ia "ajudar de longe", nomeou Saulo Aparecido
(PTB) secretário de Saúde.
Ele diz que ajuda a mulher
também em outras áreas, como educação, esportes e finanças, como "qualquer
funcionário público".
Em Nova Independência (SP),
o ex-prefeito Valdemir Joanini (PSDB) não tem cargo oficial, mas ajuda a
prefeita como uma espécie de "primeiro-cavalheiro". "Se vou
receber deputado e vereador, chamo ele", afirmou Neusa Joanini (PSDB).
Em São Paulo, o TRE
indeferiu o registro de seis candidatos substitutos de fichas-sujas, entre eles
o da prefeita de Nova Independência. Ela continua no cargo porque ainda cabe
recurso. Também há processos tramitando nos casos de Cajazeiras e Conde.
Levantamento do Movimento de
Combate à Corrupção Eleitoral mostra que 86 cidades já instituíram leis para
impedir pessoas condenadas, com contas reprovadas ou outros problemas de
assumir cargos na gestão pública.
OUTRO LADO
Políticos fichas-sujas e
seus familiares que se elegeram prefeitos dizem que não há constrangimento com
sua atuação. Os prefeitos negam que estejam sendo usados como laranjas por seus
padrinhos políticos.
Em Caputira (MG), Wanderson
do Jairinho (PTB) afirmou que recebe conselhos do pai ex-prefeito e que não vê
problemas nisso. Disse ainda não ter decidido se o pai terá cargo na
administração.
O ex-prefeito Jairinho (PTC)
disse que só foi à prefeitura na primeira semana para ajudar o filho e que
agora fica em seu escritório cuidando de negócios como empresário.
Em Cajazeiras (PB), a
assessoria de imprensa da prefeita disse que ela é a prefeita de fato e que é
normal que o marido ajude na administração, assim como fazem as
primeiras-damas.
Denise Oliveira (PSB) disse
que o marido saiu do secretariado por precaução, porque ela ainda não sabe se a
lei da Ficha Limpa municipal está valendo.
Questionada sobre a atuação
do marido, a prefeita de Conde (BA), Marly Madeirol (PTN), disse que
"todos os secretários estão contribuindo, no limite de suas funções, para
o funcionamento da administração". A prefeita não respondeu sobre ele ter
a ficha-suja. Paulo Madeirol (PSD) não quis falar com a Folha.
Em Padre Paraíso (MG), o
secretário Saulo (PTB) disse que, "sendo esposo, está trabalhando para o
município".
A prefeita de Nova
Independência (SP), Neusa Joanini (PSDB), disse não ver impedimento para que o
marido atue como "primeiro-cavalheiro" e a ajude em reuniões com
parlamentares.
Fonte: Jornal Folha de S. Paulo
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