Opinião
Por Rubens Coelho – Jornalista em 25/05/2013 às 14:53
Jornalista de profissão, no
tempo em que exercê-la não precisava de diploma, mas carecia de conhecer bem a
língua pátria, a bela língua de Camões, manejá-la com sabedoria e elegância.
Eram elementos essenciais para se tornar um bom articulista.
Pois bem, o personagem que
aqui relatarei era a junção de tudo isso e mais a vivacidade de uma pessoa
insinuante e inteligente, como se diz atualmente, antenado nas coisas da
comunidade da qual era integrado. Como profissional, ocupou diversas posições
nos jornais onde atuou: repórter, jornalista político, diretor de redação, mas
seu destaque maior foi o de cronista. Os leitores liam as estórias do cotidiano
magistralmente discorridas por ele com avidez, era um sucesso literário.
Bem-sucedido, inclusive
economicamente, nosso cronista assim pôde realizar algumas viagens ao exterior,
quando a época não era globalizada, então ir ao estrangeiro ficava para poucos
privilegiados. Mas o nosso cronista conseguiu essa proeza. Roma, Paris,
especialmente Lisboa eram seus destinos preferidos. Cada périplo desses o
motivava a escrever inúmeras crônicas sobre os lugares visitados, suas
aventuras gastronômicas nas mais diversas casas de pastos, os points da moda
com seus gourmets, vinhos famosos, tudo era descrito nos mínimos detalhes,
muitas vezes usando termos lusitanos, não usual entre os brasileiros.
A realidade foi mudando, o
mundo se transformando, se globalizando, o avanço tecnológico, a comunicação
eletrônica, a internet estreitando espaço, diminuindo o tempo, a distância e
aumentando o conhecimento das pessoas. Entre os vários termos dessa nova era,
surgiu o chamado internauta, ou navegadores da internet. Verdadeira revolução
de costumes e comportamental das pessoas.
Tudo isso aconteceu e está
acontecendo, mas o nosso cronista permaneceu escrevendo sobre suas turnês,
comidas, vinhos ingeridos, enfim, suas degustações, sem nada de novo
apresentado aos leitores, mesmos os mais velhos, pois para os jovens vivendo no
mundo eletrizante dos Twitters, Facebooks e outras parafernálias da internet,
distante da leitura, especialmente de textos gongóricos, superados, bolorento,
do nosso autor, sua situação foi se complicando, se desprestigiando até perder
o espaço nobre onde no jornal eram publicadas suas crônicas, que passaram a
ocupar um cantinho escondido, no terceiro caderno dedicado aos classificados de
venda imóveis e automóveis.
Um dia, nosso
jornalista-cronista resolveu reclamar da situação ao dono do jornal. A resposta
do jovem diretor da terceira geração de proprietários do periódico foi
fulminante: olha, cara, você foi um bom jornalista, mas hoje está ultrapassado,
decrépito, se quiser continuar publicando suas crônicas anacrônicas, o faça,
mas o espaço concedido é onde você está dispondo agora, certo?
Foi um momento triste. Nosso
cronista, amargurado, decepcionado, naquele dia escreveu a melhor crônica da
sua longa carreira: despedindo-se da profissão, da escrita e da vida.
Fonte: Jornal Gazeta do Oeste
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